Acredito que tudo anda à volta do "antes
de" e do “naqueles tempos”, que tudo gira em redor da antecipação do
momento, mas não do momento em si, ao contrário do que nos diz a filosofia Zen.
Em alemão, existe uma bela palavrinha para
isto: Vorfreude, que é ligeiramente diferente de “deleite” e de “prazer”.
Digamos que é o “antes da alegria”, o “pré-gozo”, ou seja, o prazer de esperar
pela chegada de um determinado momento, os estados de júbilo do tipo “mal
posso esperar”, o esperar-desejar alguma coisa ou alguém…
Os sábios, os Dalai-Lamas, … dizem-nos que
tudo está, supostamente, nos momentos – que devemos entesourar o momento e não
nos importarmos com a continuação do tempo. Mas desde muito cedo, me apercebi
de que, de alguma maneira, a beleza reside no tempo antes, na expectativa, na
espera, na imagem imaginária, pintada na perfeição, desse instante no tempo. E
então, depois que esse passou, num piscar de olhos, o que permanece connosco é
a memória, o reflexo, a lembrança desse tempo.
Esperar pelo primeiro beijo pode dar-nos
vagos arrepios de emoção pela espinha, mas quando acontece mesmo é um monte de
moléculas em colisão – na verdade uma confusão. Em antecipação, o momento será
glorificado pela inocência, pelo não saber. Na recordação, o momento será
purificado pelos filtros da memória. E são estas fases, do antes e do depois,
que sufocam por completo a monotonia diária (...)
Butterflies & Hurricanes, in "A minha pomposa teoria filosófica!"
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