Hoje, por mero acaso, lembrei-me
do livro “A medusa e o caracol”, de Lewis Thomas. Nesse livro existe um
artigo muito engraçado chamado: “Sobre o pensamento acerca do
pensamento”. Sem perder tempo, vim para o computador e aproveitei o tema para
esta minha primeira publicação!
No referido artigo, Thomas propõe uma metáfora alargada sobre o que é o pensamento. Diz ele que, em estado de vigília na nossa mente vão passando vagas noções, assim como se boiassem, livres como a liberdade, numa espécie de caldo sideral, assim como as estrelas. Essas noções têm forma de bolinhas, o que é de facto uma ideia muito engraçada, e têm dois ganchinhos a arrematá-las. De vez em quando, uma noção passa perto de outra, que tem um ganchinho compatível. As duas engatam-se. Continuando a girar. Volta e meia encontram mais um ganchinho compatível, voltam a engatar. A partir de certa altura, tantas noções já ligadinhas entre si formam uma outra coisa, mais consistente e que já não se vai satisfazer com qualquer ligação.
A essa coisa mais consistente Thomas chama de ideia.
Não pensem que a história acabou! Porque a ideia também gira, sempre de
ganchinho pronto ao engate, mas cada vez mais seletiva naquilo que aceita
agregar. Vai tendo mais peso, diz Thomas, e vai rodando mais devagar – o que é
de todo natural: uma ideia, desde que nasça e queira desenvolver-se, é como
qualquer outra coisa: exige tempo e calma.
Chegada a uma certa altura, a cadeia de bolinhas chamada de ideia já não
recebe nenhuma bolinha nova. Ficou pronta, densa e nítida, com extensão quanto
baste. A ideia passou a ser pensamento.
É assim que tem lugar a origem, pontual e pouco nítida, de qualquer
pensamento. Nessa altura, quando as coisas ainda estão no campo das vagas
noções rodando no espaço da mente, é difícil, senão mesmo impossível verbalizar.
Esse pré-pensamento materializar-se em formas mistas de imagens e vagas
lembranças verbais, assim como se fosse um sonho. Aliás, estarmos entregues à
flutuação das noções é uma forma de devaneio, palavra com que
designamos exatamente aquela interessante experiência de “sonhar acordado”
(algo que conheço muito bem!!).
Nota n.º 1 – Foi este o percurso que as “minhas bolinhas”
efetuaram até àquele momento em que verbalizei: “Estou a pensar criar um blog,
valerá a pena amadurecer esta ideia?”
Nota n.º2 – Será assim, com tempo e calma, que as “minhas
cadeias de bolinhas densas e nítidas”, a partilhar neste cantinho, irão nascer.
Não pensem que a história acabou! Porque agora entram vocês que vão querer
conversar sobre os meus pensamentos. Aí, terão de fazer um percurso inverso do
meu.
Vão, então, separar as partes do meu pensamento, para analisar, compreender
e poder contra-argumentar ou reforçar a minha argumentação. Trarão ao de cima
as ideias, e se eu tiver sorte, vocês dir-me-ão que os engates das minhas
bolinhas são os melhores. Bingo para mim.
Mas vocês podem “escavacar” mais um pouco e puxar pelas noções. Separá-las
umas das outras e, com as minhas noções, poderão chegar a um outro pensamento.
Bingo para vocês!
Até breve!
Beijoca minha amiga. Sucesso para este teu cantinho. Gostei.
ResponderEliminarJoão Coimbra
Gostei da metáfora. Orgulho em ti.
ResponderEliminarNóbrega
Adorei Lili!!!! Vou gostar muito de seguir estes teus pensamentos. Beijinhos.
ResponderEliminarA Medusa e o Caracol parecem-me um par bem pedagógico, pelo menos comigo funcionou. Este livro terá que vir para a minha estante.
ResponderEliminarA formação do pensamento é dos mistérios mais "pensados" por mim. Esta metáfora veio provocar ainda mais pensamentos sobre o dito.
Obrigada Liliana pelo livro, pelos pensamentos e pelas palavras tão bem engatadas!
Cumprimentos infames
Gostei. Continua. Bj
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