O tempo...
“Mais do que certezas em respostas às nossas incertezas de amanhã, qualquer reflexão sobre o futuro traz-nos incertezas às nossas certezas presentes.” (Edgar Morin, in O Método)
O tempo cronológico, também conhecido como a quarta dimensão (da física), é algo indefinido e, tal como a vida, é sempre limitado, mesmo quando não somos capazes de ver o princípio e o fim. Disse limitado, o que não significa necessariamente efémero, porque isso depende, quase só, da força do nosso testemunho forjado na memória do tempo – alquimia de mulheres e homens, sonhos e realidades, sucessos e insucessos… da realização das gerações que cumprem o seu “mandato” existencial.
Mas como se define tempo? ... Intervalo entre dois acontecimentos?
É uma ideia fascinante! O início de tudo. O momento em que tudo começa. Mas, efetivamente, começa o quê? A vida não, certamente. Neste aspeto, tanto físicos como metafísicos estão de acordo – a vida só apareceu mais tarde. Então, insiste-se, o que é que começou de facto? A matéria, a luz, a energia e todas as outras formas de uma mesma realidade, de uma mesma natureza que, temos de admitir, ainda não foi totalmente revelada? Talvez. O que importa reter é que começou. Ou seja, algo mudou naquele instante inicial.
Alguma coisa começou a mudar. Quando algo muda, há o momento da mudança ou, também, a duração da mudança. É a esse momento ou a essa duração que chamamos tempo. O tempo só existe porque existe mudança. Isto resolve, para já (!), uma das dúvidas mais prementes no espírito de muitos: existiu um momento antes da criação do Universo? Não. Antes do início (do big bang, para os espíritos mais científicos), o tempo não existia, uma vez que não havia mudança. Logo, não houve qualquer momento que antecedesse o Início.
Assim, podemos definir o tempo singelamente como sendo “o intervalo entre dois acontecimentos”. Ora, para que alguma coisa aconteça é necessário que algo mude: que se mova, por exemplo, que aumente ou diminua, que altere o seu aspeto, a sua temperatura, o seu estado, a cor, etc. Se nada mudar, o tempo não faz sentido. E não será de mais recordar que medir é sempre comparar!
O tempo e a sociedade dos nossos dias...
Vivemos num tempo em que as pessoas dizem não ter tempo para nada e vivem angustiadas, frequentemente, em função disso mesmo: “Ah, se eu pudesse parar o tempo!”, “Tenho que ter tempo para tudo e para todos menos para mim próprio” – (estes são alguns dos desabafos que povoam as consciências do nosso tempo).
As pessoas correm, correm freneticamente em todas as direções, por isto e por aquilo, aos ziguezagues…
Mas para onde estamos a ir?
Sem dúvida sempre em direção à menor fração de tempo. Atrás desta quimera vai o nosso ritmo de vida, cada vez mais rápido. O que dantes se media em dias ou em horas, agora é medido ao minuto (Ex.: ”Telefona-me daqui a 10 minutos, Ok?”- como ainda há pouco uma colega me disse!!). Em certas modalidades de alta competição já se medem os resultados em centésimas de segundo, como no atletismo, e em milésimas de segundo, como no automobilismo. E isto é só o começo! O movimento continua. Vamos certamente continuar a correr, em constante aceleração, perseguindo ou sendo perseguidos pelo tempo, sempre em busca daquela felicidade mítica a que o instinto nos conduz. Será apenas uma questão de tempo? Como alguém dizia, o tempo é um grande mestre. Só é pena que tenha o defeito de matar os seus discípulos!
Torna-se necessário, portanto, parar um pouco para voltar a refletir sobre o nosso papel, na sociedade e na vida.
No entanto, antes de perguntar: como posso esticar o tempo? – tarefa titânica reservada aos deuses do Olimpo -, devo questionar-me sobre quais as prioridades da minha vida, qual o sentido das minhas ações ou, de forma mais tecnocrática, como gerir melhor o meu tempo? (tentarei abordar a gestão do tempo numa publicação futura).
Não sendo capaz de responder a todas as solicitações devo, de entre o universo das possíveis, escolher aquelas que mais poderão contribuir para a minha alegria de viver, para a minha realização pessoal.
Mas este EU tem que ser utilizado com parcimónia, sob a pena de se confundir com egoísmo e, neste caso, voltaremos a ter mais do mesmo, ou seja, uma existência cheia de coisa nenhuma, balofa, pouco útil e sem sentido gregário…
Parabéns por mais este texto.
ResponderEliminarOi Liliana, outra sugestão de leitura: Texto - MORIN, Edgar. A noção de sujeito. In: SCHNITMAN, Fried Dora (org). Novos Paradigmas, cultura e subjetividade. Porto Alegre: Editora Artmed, 1996.
ResponderEliminarObrigada, Nóbrega!...
ResponderEliminarCibele, agradeço as tuas visitas a este espaço e, ainda mais, as sugestões de leitura que vais dando... Beijinho.