Uma questão de autoestima
Quando se fala de autoestima há algumas questões que se levantam: o que é a autoestima? Qual o seu impacto e influência nas experiências do dia-a-dia? Como é que se desenvolve e evolui? Como se pode transformar uma baixa numa elevada estima de si?
A autoestima é o valor autoatribuído, aceitação pessoal pelo próprio ou um sentimento de competência pessoal auto-percebida.
A autoestima, à semelhança de muitos outros conceitos psicológicos, é algo que se desenvolve no berço e nas interações com os outros indivíduos nos primeiros anos de vida. Tal como defende Bandura, a ideia que os indivíduos têm de si mesmos deriva da forma como são tratados pelos contextos e pelo ambiente social. E aqui os pais ocupam um lugar privilegiado, pela ligação específica que o bebé e a criança vão estabelecendo com eles.
As expetativas, desejos e sonhos que os pais desenvolvem em relação ao seu/a filho/a relacionam-se com aquilo que ele/a será ou terá no futuro: advogado, médico, cabeleireiro, bom atleta, autónomo, integro, franco e honesto, preocupado com a sua aparência, respeito pelos outros, resistência à doença …
É num medir de forças entre as expetativas, desejos e sonhos dos pais e os reais interesses, competências e capacidades dos filhos, que se pode desenvolver um sentimento de incompetência, uma imagem empobrecida de si e das suas capacidades e o sentimento de não gostar de si mesmo/a, o que se designa por baixa autoestima.
Quando Coimbra de Matos nos diz que “só pode amar e amar-se quem foi amado” – numa sequência natural que inicia no ser-se amado (pelos pais), que passa pela capacidade de se amar (a si mesmo) para finalizar na possibilidade de amar o outro – possui subjacente a convicção de que os pais (os bons pais – biológicos ou adotivos, acrescenta ele) desempenham um papel fundamental no crescimento saudável e harmonioso do bebé e da criança, um papel onde a sua capacidade de amar incondicionalmente e a não exigência de retribuição desse amor são essenciais para o que o seu filho desenvolva uma boa estima de si.
SABIA QUE:
- Será mais sensível ao que o seu filho pensa e sente se conseguir colocar-se na sua pele.
- É muito importante para o seu filho ser levado a sério.
- As crianças cujos pais têm uma imagem negativa de si têm mais dificuldade em ver-se de forma positiva.
- As crianças dos 6 aos 12 anos dão muita importância á sua aparência física; são particularmente sensíveis á atração suscitam e à aprovação dos outros
- A forma como o seu filho se vê e se avalia influencia os seus atos.
- Ter uma autoestima positiva é ser capaz de aceitar os seus limites e erros.
- A opinião que o seu filho tem de si próprio influencia consideravelmente a sua propensão para ter êxito e uma vida feliz.
A tarefa dos pais não é fácil, nem simples, pois exige encontrar um equilíbrio entre a necessidade de impor regras e limites (que são fundamentais para o desenvolvimento da capacidade de estabelecer relacionamentos harmoniosos com os outros indivíduos) e proporcionar situações em que o seu filho/a desenvolva gradualmente a capacidade de viver a sua vida de forma autónoma, independente e com respeito pelos outros. E essa capacidade é tanto mais fácil de alcançar quanto mais a criança se sentir confiante nas suas capacidades.
REGRAS E LIMITES
- As crianças sentem-se seguras quando lhes fixamos limites.
- As regras são necessárias ao bom funcionamento de todo o grupo social, incluindo da família.
- As regras devem ser estabelecidas em função da idade das crianças. E, acima de tudo, devem ter em conta as suas necessidades.
- Após terem estabelecido as regras, é importante que os adultos prevejam as consequências que delas decorrem, positivas ou negativas…
- Os pais são os primeiros modelos dos seus filhos
- Uma relação de amor está na base de toda a disciplina
- Nos períodos de crise, a criança deve verificar que o amor dos pais não diminuiu. Aprende assim a manter a sua autoconfiança, apesar das dificuldades com que se depara ao longo da vida.
Uma elevada autoestima pode ser considerada como um mecanismo mental que incentiva o indivíduo a aceitar novos desafios e o auxilia a ultrapassar os problemas que naturalmente se vão colocando ao longo da vida. Não é por acaso que Carl Rogers considerava que uma boa estima de si constitui um excelente protetor da sanidade mental.
SUGESTÕES DE LEITURAS
Laporte, D. & Sévigny, L. (2006). A auto-estima dos 6 aos 12 anos. Coleção Crescer & Viver. Lisboa: Climepsi.
Duclos, G. (2006). A Autoestima, Um passaporte para a vida. Coleção Crescer & Viver. Lisboa: Climepsi.
FOTO: Família Carvalho (parte da minha linda família!)
Oi Liliana, lendo o seu texto lembrei me do livro: SATIR, Virginia. Terapia do grupo familiar. Rio de Janeiro. Editora: Francisco Alves, 1993.
ResponderEliminarOlá Cibele!Obrigada pela sugestão.
ResponderEliminarBandura, Piaget, ou mesmo Erikson...são mentores de grandes pensamentos....mas interrogo-me sobre uma questão que me faz pensar imensas vezes: sendo os mesmos pais e com a mesma educação como é possível ter duas filhas totalmente diferentes...não só no modo de ver o que as rodeia como a forma de estar perante a realidade!!!!
ResponderEliminarLiliana, obrigada pelo comentáro!
ResponderEliminarOpinião de BUTTERFLIES & HURRICANES:
Não existe um binómio natureza vs educação. São as duas coisas. Temos as características genéticas, os 9 meses de gestação (a relação com a criança inicia-se na gravidez), a ordem do nascimento/experiência enquanto pais, e temos, ainda, o ambiente/estímulos/amigos/conhecidos que podem não ser comuns às duas crianças (como os coleguinhas de escola), ou atuam/interagem/influenciam de modo diferente com as duas crianças.
(As crianças são incrivelmente permeáveis. Por exemplo, quase sempre, mães ansiosas desenvolvem filhos ansiosos).
A criança/indivíduo é um ser bio-psico-social. Portanto, a nossa personalidade tem uma base biológica mas, ao longo do nosso desenvolvimento (os primeiros anos de vida são fundamentais), vamos moldando-a em função do meio.
Esta afirmação do Prof. Brazelton é muito interessante: a relação com os pais vai sendo construída ao longo da gravidez, “à medida que os pais esperam o bebé. E na altura em que finalmente, têm o bebé ali, estão preparados para fazer seja o que for por ele. E, claro, à medida que se começam a aperceber de que o bebé é um indivíduo, e que é diferente, começam a moldar o seu comportamento a essa diferença, a essa individualidade. Não está, portanto, nas mãos dos pais serem dominadores. Passam, rapidamente, a interagir com o bebé”.
Clarificando, quando os pais dizem, eu atuo do mesmo modo com as duas, dou a mesma educação, etc… não é verdade. Podem transmitir os mesmos valores, os mesmos conselhos, mas interagem de forma diferente com cada uma delas. Sim, dão o mesmo amor a ambas, isso não está em causa…
Agora imaginem se os pais interagem de forma diferente, como atuarão os avós, os tios, os amigos…