Várias vezes me questiono, e já o fiz aqui no blog: Quando a cabeça não pensa o corpo adoece. Mas...quando a cabeça pensa demais o que é que acontece? Enriquece?... Sempre pensei muito, em tudo e em todos. Não, não estou insatisfeita com a vida, mas um pouquinho de racionalidade a menos não me ficava mal! É que esta atitude, diria natural e inconsciente, por vezes cansa, desgasta...
Posto isto, o poema "Ela canta, pobre ceifeira", de Fernando Pessoa, teria de ser um dos "meus" poemas...
Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
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