ENVELHECIMENTO e a Inteligência Emocional



“Quando uma existência digna preparou a velhice, não é a decadência que se recorda, mas sim os primeiros dias da imortalidade”
—Madame de Stael-Holstein

O envelhecimento, enquanto experiência psicoafetiva altamente exigente, está marcado por um conjunto de transformações de natureza diferente. Mudanças corporais que afetam em muitos casos a imagem que os indivíduos têm de si próprios, diminuição de algumas capacidades sensoriais ou lutos de pessoas próximas, que confrontam o indivíduo com a proximidade da sua própria morte, são apenas alguns exemplos dos desafios que uma pessoa de idade avançada tem forçosamente de enfrentar.

O idoso depara-se nesse sentido com um conjunto de transformações que exigem toda uma série de competências que contribuam para atravessar de forma ajustada esta etapa do seu percurso de desenvolvimento.
Algumas dessas competências estão associadas ao que vulgarmente se apelida de Inteligência Emocional. Apesar de relativamente pouco estudada entre os mais idosos, a IE abarca um conjunto de CINCO competências básicas, a saber:
  1. EMPATIA, que está relacionada com a facilidade da pessoa idosa identificar sentimentos, desejos e problemas dos indivíduos que a rodeiam, através, por exemplo, da leitura de comportamentos não verbais tais como o tom de voz, a postura corporal ou as expressões faciais daqueles com quem interagem;
  2. A SOCIABILIDADE, que consiste na capacidade de iniciar e preservar relações de amizade ao longo dos anos, independentemente da idade, sendo esta rede social de apoio decisiva para melhor se tolerar os desafios impostos neste momento tão sensível do desenvolvimento;
  3.  A AUTOMOTIVAÇÃO,  que está associada à capacidade de elaborar planos para a própria vida com esperança e otimismo, apesar de, no caso da pessoa idosa, se estar a atravessar as derradeiras etapas do ciclo de vida;
  4. O AUTOCONTROLO, que passa pela capacidade de lidar com os próprios sentimentos e impulsos gerados por situações, por exemplo, ligados à impossibilidade de realizar atividades que se constituiam antes como fonte de satisfação;
  5. A AUTOCONSCIÊNCIA, ligada à capacidade de identificar, nomear e avaliar os sentimentos, por exemplo, associados muitas vezes à reforma e à perda de status económico.
Como se desenvolvem estas competências ao longo da vida?
Se, por um lado, a investigação sugere que existe uma componente genética associada à inteligência emocional, pesquisas na área da psicologia do desenvolvimento têm vindo a demonstrar que as experiências relacionais que os indivíduos vão acumulando ao longo da vida modulam decisivamente os índices deste tipo de inteligência. Talvez nunca alcancemos uma resposta cabal a esta questão, mas um dado parece ser mais consensual: a inteligência emocional aumenta com a idade.

Ao contrário do que se passa com o declínio que algumas funções cognitivas sofrem em resultado do envelhecimento normal, grupos de pessoas mais velhas apresentam resultados significativamente superiores aos grupos mais jovens na maioria das dimensões da escala de inteligência emocional.

Mas se assim é, como se explica a cifra avultada de pessoas que sucumbem nesta fase da vida a perturbações psíquicas, como estados depressivos, perturbações de ansiedade e agravamento das perturbações de personalidade?

O que hoje se acredita ao nível da psicogerontologia é que o envelhecimento se constitui como uma etapa marcada por um potencial evolutivo. Torna-se necessário compreender as mudanças que ocorrem netsta altura da vida, à luz dos recursos que cada pessoa foi acumulado em resultado dos diferentes acontecimentos de vida e da forma como se foi organizando em resultado disso, ou seja, em função do nível de desenvolvimento emocional alcançado.

O Desenvolvimento Psicológico não fica portanto estagnado e se, em termos da personalidade, se regista uma tendência em termos da estabilidade, as possibilidades de mudança comportamental continuam em aberto, se bem que pessoas previamente melhor adaptadas encontrem um leque mais variado de alternativas.

Pensar, portanto, a inteligência emocional no âmbito da pessoa idosa passa, sobretudo, por um esforço de individualização, ou seja, mais do que darmos o trabalho por terminado no cálculo do quociente de inteligência emocional, torna-se mais importante que isso, perceber as suscetibilidades e os pontos de maior coesão em termos do funcionamento mental nas diferentes competências que este conceito compreende. Só assim estaremos efetivamente em melhores condições de avaliar o modo como esses recursos serão postos ao serviço do bem-estar psicológico da pessoa idosa, isto é, se se revelam insuficientes para fazer frente aos desafios que o envelhecimento coloca, ou se serão eles os responsáveis por tornar verdade o aforismo de Madame Stael-Holstein.

O desenvolvimento psicológico não fica estagnado e as possibilidades de mudança comportamental continuam em aberto

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