Inteligência Emocional é a capacidade de perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros.
Mayer e Salovey (1990)
" Quando o Esperto é Burro
Exatamente por que razão foi
David Pologruto, professor de Física do ensino secundário, atacado com uma faca
de cozinha por um dos seus melhores alunos é algo que continua aberto a debate.
Mas os factos, tal como foram largamente divulgados, são os seguintes:
Jason H., pré-finalista e
excelente aluno no liceu de Coral Springs, na Florida, estava decidido a entrar
para a faculdade de Medicina. Mas não para uma faculdade de medicina qualquer –
não, o seu sonho era Harvard. Aconteceu, porém, que Pologruto, seu professor de
Física, lhe deu 80% num teste. Convencido de que a nota – um mero Bom – punha o
seu sonho em perigo, Jason pegou numa faca de trinchar e, numa confrontação com
Pologruto no laboratório de Física, esfaqueou o professor no pescoço antes de
ser dominado pelos outros alunos.
Um juiz declarou Jason inocente,
momentaneamente louco durante o incidente – um painel de quatro psicólogos e
psiquiatras jurara que o jovem se encontrava psicótico durante a luta. Jason
testemunhou que planeara cometer o suicídio por causa da má nota. Pologruto
contou uma história diferente: “Penso que ele estava absolutamente decidido a
matar-me com aquela faca” por estar furioso com o que considerava uma nota
injusta.
Depois de ter sido transferido
para um colégio particular, Jason graduou-se dois anos mais tarde como o
primeiro da sua classe. Uma notação perfeita nas aulas normais ter-lhe-ia dado
um A, ou seja, uma média de 4,0, mas o nosso jovem fez vários cursos adiantados
que colocaram a sua média em 4,614 – bem acima de um A+. Mesmo depois de Jason
se ter graduado com honras, o seu antigo professor de Física, David Pologruto,
continuou a queixar-se de que ele nunca tinha pedido desculpa ou assumido a
responsabilidade pelo ataque.
A questão é: como pôde alguém tão obviamente inteligente fazer
uma coisa tão irracional, tão perfeitamente estúpida? A resposta: a inteligência académica tem muito pouco a ver com a
vida emocional".
(Goleman, 1995, pg.53)
Há numerosíssimas exceções à
regra de que o QI prediz o êxito; na realidade, são mais exceções do que a
regra. Na melhor das hipóteses, o QI contribui com cerca de 20% para os fatores
que determinam o êxito na vida, o que deixa 80% para outras forças –entramos no
domínio da Inteligência Emocional.
Ou seja, a capacidade de a pessoa se
motivar a si mesma e persistir a despeito das frustrações; de controlar os
impulsos e adiar a recompensa; de regular o seu próprio estado de espírito e
impedir que o desânimo subjugue a faculdade de pensar; de sentir empatia e de
ter esperança.
Goleman (1995) defende o papel crucial que as emoções têm na vida
diária. Considera que a Inteligência Emocional caracteriza a forma como os
indivíduos lidam com as suas emoções e com as das pessoas ao seu redor. Isto
implica autoconsciência, motivação, persistência, empatia e entendimento; para
além disso, exige ainda características sociais como persuasão, cooperação,
negociações e liderança.
Goleman divide a Inteligência
Emocional nas seguintes cinco competências emocionais:
- Autoconhecimento Emocional, a capacidade de identificar e evocar os estados emocionais e de compreender a ligação entre emoções, pensamento e ação. Esta competência é fundamental para que o indivíduo tenha confiança em si próprio e tenha consciência dos seus pontos fortes e fracos;
- Controlo Emocional, a capacidade de controlar os estados emocionais, controlar emoções ou evocar estados emocionais mais adequados;
- Automotivação, a capacidade de ter um papel ativo nos estados emocionais associados com um movimento de vontade e sucesso;
- Capacidade de empatia, saber colocar-se no lugar do outro, reconhecer emoções nos outros, a capacidade de identificar, compreender e influenciar positivamente as emoções da pessoa.
- Capacidade de fazer e manter relações interpessoais satisfatórias.
As três
primeiras competências acima mencionadas referem-se à inteligência intrapessoal (= capacidade de relacionamento consigo
mesmo, o autoconhecimento; a capacidade de administrar os seus sentimentos e
emoções a favor dos seus próprios interesses e projetos). As duas últimas, à
inteligência interpessoal (=capacidade de compreender os outros; a forma como
se aceita e convive com o outro).
Segundo Goleman, estas competências
apresentam-se de forma hierárquica: na base da sua hierarquia, a “competência
1” é a capacidade de identificar um estado emocional próprio. Algum conhecimento
da primeira é necessário para se passar para a competência seguinte. O conhecimento
e/ou a competência nas primeiras três competências mencionadas são necessários
para interpretar positivamente e influenciar emoções doutra pessoa – “competência
4”. As primeiras quatros competências conduzem a uma competência global de
incorporar e sustentar relacionamentos satisfatórios para ambas as partes – “competência
5”.
Fontes:
Goleman, D. (1995): Inteligência Emocional. Lisboa: Temas & Debates
Salovey & Mayer (1990): Emotional Intelligence. In Imagination, Cognition and Personality, n.º9, 185-211, revista da American Association for the Study of Mental Imagery.
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