Deixar de fumar, fazer dieta e respeitar o código da estrada são apenas
alguns exemplos de comportamentos que, apesar de, em muitas circunstâncias,
colocarem em risco a nossa vida, muito dificilmente os conseguimos modificar.
PORQUÊ?
Basicamente porque na
generalidade dos casos o risco associado a um determinado comportamento (ou o
ganho associado a um outro comportamento alternativo) não é óbvio e imediato. Afinal
de contas, o cancro no pulmão derivado do consumo do tabaco ou os problemas
cardíacos originados pela obesidade só surgem após muitas décadas de consumo
inadequado ou excessivo. E os acidentes de viação com vítimas mortais são uma
pequena exceção, sendo a regra a viagem que decorre sem incidentes de maior (para
além disso, pensamos sistematicamente que os acidentes só acontecem aos
outros).
Apesar de muitas vezes ser difícil mudar o comportamento, certamente
que não é uma tarefa impossível e, em muitos casos, até é desejável que
ocorra essa mudança.
A informação sobre os malefícios
do tabaco e da obesidade é muito abundante. No entanto, o impacto dessa
informação sobre o comportamento dos fumadores ou dos obesos é limitada. Exceto
quando os indivíduos vivenciam direta ou indiretamente as consequências
nefastas desses comportamentos. No entanto, mesmo nestas situações as
alterações são momentâneas, pois os indivíduos muito rapidamente retornam aos
seus hábitos e estilos de vida anteriores.
Há dias, um colega contava-me que
chegou a fazer uma viagem de carrinha com mais cinco amigos por Portugal,
Espanha e França. A rir comentava que “tivemos a preocupação de passar sempre
os limites máximos de velocidade estabelecidos em cada um dos países”. Acontece
que no regresso cruzaram-se com dois grandes acidentes numa das autoestradas
mais movimentadas de França. Na sequência desses acidentes morreram no local 10
pessoas e em relação a muitas destas pessoas foi perfeitamente visível para o
meu colega, e seus companheiros de viagem, que elas estavam mortas. CONSEQUÊNCIA: durante cerca de 800 Km o
condutor andou sempre abaixo do limite máximo de velocidade, quer em França,
quer em Espanha. Depois de dois dias de descanso numa estância balnear
espanhola, a viagem prosseguiu ao ritmo inicial: a alteração de comportamento
tinha sido momentânea.
É por isso que as campanhas de prevenção rodoviária nos meios de
comunicação social possuem efeitos tão reduzidos: são apenas informação que
(como se diz na linguagem corrente) “entra a 100 e sai a 200”.
Por vezes são desenvolvidas campanhas de prevenção rodoviária que
conseguem pôr as pessoas a pensar e a conversar sobre o tema. Em Portugal
foi desenvolvida, há já algum tempo, uma campanha que consistia na visualização
de sobreviventes de acidentes de viação a desempenharem com extrema dificuldade
ações do quotidiano que, em circunstâncias normais, não colocam qualquer tipo
de dificuldade (como apertar um botão de uma camisa, por exemplo). Estavam
planeados vários spots publicitários, cada um deles com uma pessoa diferente a
apresentar o seu testemunho. Só o primeiro foi emitido na íntegra, pois alguém
decidiu o cancelamento da campanha.
No entanto, se a razão da
anulação da campanha foi o desconforto gerado pelo spot, esse mesmo desconforto
é que justificava a implementação integral da campanha que estava a alcançar o
seu objetivo – porque se as pessoas
conversavam sobre a campanha , era certamente porque as suas crenças eram
colocadas em causa, o que consequentemente punha em questão a sua atitude em
relação à condução e talvez mesmo o seu comportamento de condução.
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