Sentada no degrau das escadas mantinha longas conversas com ela. Falávamos de tudo quanto apetecesse. Nunca lhe dei um rosto, uma idade. Mas tinha um nome: Ana e vivia no planeta da minha imaginação. Não recordo como a “inventei” nem sequer como, ou quando, a “mandei embora”...
O amigo
imaginário é tão real quanto a imaginação da criança que o cria. Pode fazer
“milagres” no desenvolvimento infantil e os pais devem respeitá-lo. Ele surge,
normalmente, em mentes mais criativas e desaparece quando o mundo real se
impõe.
Questões que os
pais, habitualmente, colocam:
É prejudicial a
criança ter um amigo imaginário?
Antes pelo
contrário, é saudável, pois permite desenvolver o imaginário da criança e em
situações de stresse emocional (como a mudança de um amigo de escola ou o
divórcio dos pais) pode funcionar como um mecanismo de defesa que conforta e
ajuda a ultrapassar esse momento. Existem dois tipos de amigos imaginários: os
amigos invisíveis ou os objetos personificados.
Porque é que
existe em algumas crianças a necessidade de criar um amigo imaginário?
Se existe em
algumas situações a “necessidade” de recorrer a um amigo imaginário (como são
as situações assinaladas anteriormente), noutras não é propriamente uma
necessidade mas sim o resultado do imaginário da criança. De facto, as crianças
que têm amigos imaginários são na maioria muito criativas e inteligentes.
Com que idade é
mais frequente a criança procurar um amigo imaginário?
É muito comum
entre os três e os seis anos. Normalmente, na idade de entrar para a escola,
estes amigos desaparecem de forma natural.
Existe um
padrão de criança que procura esta companhia real na sua fantasia?
Sim,
normalmente são crianças mais criativas e mais inteligentes, que criam os amigos
imaginários. Um estudo americano doInstitute of Child Development da
Universidade de Minnesota, EUA, feito com 79 crianças conclui que existe uma
tendência para serem os primeiros filhos e filhos únicos a criarem os amigos
imaginários.
Quais são os principais
motivos que levam a criança a criar um amigo que existe apenas na sua
imaginação?
Existem várias
razões para exaltar o amigo imaginário. Tais como a necessidade de criar uma
personagem que acompanhe a criança nas suas brincadeiras; a possibilidade de
pôr em prática o resultado da sua imaginação fértil (criar uma fada, um
ser fantástico que existe nas florestas encantadas…); funcionar como conforto
para os momentos de stresse; o querer mandar na brincadeira ou controlar a
situação (a criança dá as ordens, define as regras, muda de regras quando lhe
apetece); para fazerem coisas que normalmente não fariam; porque ajudam a lidar
com a raiva ou inveja que a criança sente no seu dia -a- dia, mas de uma forma
segura; porque podem funcionar como um amigo substituto nas crianças que não
têm amigos ou que estão sozinhas.
Que tipo de
conversas as crianças mantêm com o seu amigo imaginário?
As crianças têm
com os seus amigos imaginários todo o tipo de conversas e partilham com elas os
seus segredos mais íntimos (desde os seus sentimentos em relação a alguma
criança da sua sala, em relação às atitudes dos pais, em relação a algum
acontecimento traumático). Mas na maioria das vezes as conversas são inventadas
e os diálogos são feitos em função do contexto da brincadeira e não quer dizer
que tenham um significado muito concreto. São apenas imaginação, criatividade.
O que é que os
pais devem fazer?
Os pais devem
lidar com a situação do amigo imaginário de forma natural, uma vez que a
maioria das vezes é um acontecimento normal no desenvolvimento da criança.
Devem respeitar o amigo imaginário, lembrar-se do seu nome, não “gozar”, não se
sentar em cima, não o usar para conseguir que o filho como a sopa… Mas também
não devem ir mais longe, ou seja, não devem atuar como a criança, não devem
conversar demasiado com o amigo imaginário. Se a criança pede um prato extra
podem dar, mas não devem promover dizendo: “toma ele também precisa de um
guardanapo e de um copo…”. Será a criança a definir qual o grau de participação
do amigo imaginário na sua vida real e qual o envolvimento dos pais. O
importante para os pais é tentar identificar se há alguma razão concreta para
existir esse amigo imaginário: a morte de alguém, mudança de casa, divórcio,
perda de uma amigo, … Se existir este tipo de razão deve-se tentar estar atento
aos diálogos da criança porque podem transmitir os seus sentimentos, medos,
ansiedades em relação aos acontecimentos. No entanto, se os pais sentirem muita
desorientação devem pedir ajuda a um psicólogo.
Quando é que os
sinais da presença de um amigo imaginário passam a ser patológicos?
Quando a
criança fica demasiado agarrada ao amigo imaginário, começando a isolar-se;
quando tenta incorporá-lo totalmente no seu dia a dia; quando o amigo
imaginário está sempre a fazer coisas malfeitas, ou está sempre a arranjar
problemas ou chega a tornar-se agressivo e manipulador; quando a própria
criança culpa sempre o amigo imaginário pelos seus erros ou ainda quando já
passou a fase normal para ter um amigo imaginário (mais de seis anos). Nestas
circunstâncias os pais devem sempre manter a tranquilidade e ser compreensivos,
mas se as estratégias que adotarem não resultarem e a situação se
mantiver devem consultar um psicólogo.
Quando e como é
que as crianças “mandam embora” o amigo imaginário?
Os amigos
imaginários deixam de existir da forma como aparecem – naturalmente.
Desaparecem porque a criança deixa de ter necessidade de os ter, quando o mundo
real está mais incorporado em si e a criança começa a dar mais importância aos
amigos reais.