Impressiono-me sempre que observo
a Primavera chegar com o esplendor da renovação, como que dizendo “um novo trimestre surgiu!”, “o novo momento
se ergueu”.
Estes são os meses da mudança e do progresso no mundo da natureza: porque seria diferente no mundo humano?
No mês de Março, o Sol dota as coisas de um novo ímpeto: as plantas começam a
brotar, o deserto transforma-se em planície, as árvores florescem e todas as
coisas vivas parecem responder… A
realidade humana muda e mescla-se o pensamento racional e o emocional.
Abril parece ser detentor de uma carga única. Começa com a Vasantotsava, o Festival da Primavera dos Vedas Hindus, praticado, em tempos imemoriais, na Índia. As Escrituras Hebraicas falam na Pessach,
cujas preces falam de liberdade.
Não é, então, por mero acaso que Frankl, apologista da liberdade, era Judeu. Este
psiquiatra, preso de Auschwitz, afirma que o ser humano assume uma liberdade
finita, pois não se é “livre de
condicionamentos, apenas livre na atitude como os assume”: é detentor de
liberdade de escolha, “de tomar posições
perante si mesmo, de enfrentar-se a si mesmo e, com este fim, distanciar-se, em
primeiro lugar, de si mesmo”.
É desse distanciamento que se consegue observar e entender-se melhor a
si próprio. É talvez por isso que os Bahá’ís celebram entre 21 de Abril e 2 de Maio o que chamam de “O
Rei dos Festivais”: o Ridván, um período de celebração, de
júbilo espiritual e também de consultas administrativas onde todos podem (e
devem até!) participar num espírito de
iniciativa e de aprendizagem, com o intuito de contínuo progresso.
É essa a aprendizagem que
retiramos também do Concílio de Niceia, no qual se estabeleceu o primeiro domingo a
seguir à primeira lua cheia (eclesiástica), após o 21 de Março, como a Páscoa,
o dia em que o cristo renasce, dando novo alento aos seres humanos.
Jesus, crucificado, parece ressurgir ensinando que nada jamais se perde, que a vida é vivida em ciclos contínuos de
persistência nas causas que se defendem, e jamais se deve parar perante os
obstáculos!
A vida, já defendia Erickson, é
composta de ciclos e períodos que assumem o seu sentido em todos os momentos. Mas
é desde o antigo Zoroastrianismo que aprendemos a parar e refletir perante
alguns desses momentos e ciclos, que terminam à medida que outros se iniciam; a
21 de Março, o Ano Novo, é o momento de festa e alegria, no qual se celebra a essência do Bem
(Asura Mazda).
É aqui que grandes autores (Rogers, Maslow, Seligman e Peseschkian)
teriam o derradeiro argumento, defendendo
a essência positiva dos seres humanos, abonando a bondade que lhes é inerente e
a capacidade de se ser melhor, levando avante uma civilização cada vez mais
avançada.
Mas, Freud também teria razão se, apesar disso, dissesse que somos dotados de imperfeições; e, talvez, Bandura secundaria, dizendo que observamos tantas maldades que
já as incorporamos. O que nos leva a Rumi, poeta islâmico, e à sua
explicação:
“Aquilo que nos parece bem ou mau
não tem qualquer existência absoluta, é somente como a espuma à superfície de
um vasto oceano. Não se poderia ser virtuoso se não houvesse a tentação de se
ter o vício”.
Não sei bem como seria a vida sem
sofrimento, desgraça ou tragédia… O que sei é que quanto mais lavrado o solo,
melhor será a colheita!