Distúrbios alimentares. Padrão de Beleza, a quanto obrigas?...

A escravização a que as pessoas das sociedades “civilizadas” se submetem, para enquadrarem determinados padrões de beleza, tem sido um dos fatores socioculturais associados ao incremento da incidência de alguns dos chamados transtornos dismórficos, sejam corporais (anorexia, bulimia) ou musculares (vigorexia) ou obedecendo a dietas naturalistas (ortorexia).
Quando a preocupação com o corpo passa a uma obsessão geradora de sentimentos de insegurança, de introversão, de timidez, o corpo e a mente passam a ser “vítimas” de doenças de foro emocional. Podem ser acompanhadas de ansiedade, depressão, fobias, atitudes e comportamentos impulsivos e repetitivos e que conduzem ao já denominado Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), historicamente conhecido como Dismorfofobia ou medo da fealdade.
DEFEITO IMAGINÁRIO
A DSM-IV (Classificação Americana de Doenças Mentais) diz que a caraterística essencial do Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) é uma preocupação com um defeito na aparência, sendo este defeito imaginado ou, se houver uma ligeira anomalia de facto, a preocupação do indivíduo é acentuadamente excessiva e desproporcional. Esta preocupação deve causar sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social e/ou ocupacional, ou em outras áreas importantes da vida da pessoa.

ANOREXIA, VIGOREXIA E ORTOREXIA

A Anorexia Nervosa* é um transtorno alimentar caraterizado por limitação da ingestão de alimentos, devido à obsessão de magreza e o medo mórbido de ganhar peso. E este medo, geralmente, não é aliviado pela perda de peso. Na verdade, a preocupação com o ganho ponderal, frequentemente, aumenta à medida que o peso real diminui.
A autoestima dos pacientes com anorexia nervosa depende, obsessivamente, da sua forma e peso corporais. A perda de peso é vista como uma conquista notável e como um sinal de extraordinária disciplina pessoal, ao passo que o aumento de peso é percebido como um inaceitável fracasso do autocontrolo.
Escolhem a comida e o corpo representantes de um afeto que na verdade nada tem a ver com a alimentação no seu sentido mais concreto.
A Vigorexia (ou Complexo de Adónis) ainda não tem critérios definidos claramente pela CID.10 (Classificação Europeia das Doenças Mentais) e pela DSM-IV, mas algumas caraterísticas de personalidade começam a ser evidentes: baixa autoestima; dificuldades de integração social; introversão; rejeitar ou aceitar com sofrimento a própria imagem corporal; obsessão em tornarem-se musculosos; o sintoma central parece ser uma distorção na perceção do próprio corpo.
O culturismo é um desporto que se associa com este tipo de desordem, no entanto, não significa que todos os praticantes da modalidade tenham Vigorexia.
Emocionalmente, a Vigorexia pode ter como consequência um quadro de Perturbação Obsessiva-Compulsiva (POC), fazendo com que o próprio se sinta fracassado e abandone as suas atividades sociais, laborais, com o propósito de treinar e exercitar-se se pausa.
Estas duas doenças, Anorexia e Vigorexia, promovem a distorção da imagem que as pessoas têm de si mesmas: os anoréticos nunca se acham suficientemente magros, os vigoréticos nunca se acham suficientemente musculosos. Ambas podem ser, também consideradas, “patologias do narcisismo”, deficiência de amor próprio na saúde patológica.
A Ortorexia é um quadro onde a pessoa se preocupa muito com os os hábitos alimentares e dedica bastante tempo a planear, comprar e preparar e fazer refeições, ou seja, o exagero das dietas naturalistas, uma espécie de obsessão dietética.

CORPO IDEAL VS. CORPO REAL
O habitual, desejável para o ser humano em equilíbrio, é estar moderadamente preocupado com o seu corpo sem que esta preocupação se converta numa obsessão.
É olhar-se e sentir-se bem, é cuidá-lo.
O ideal, desejável e sadio não é o padrão imposto pelas revistas de beleza e pelos modelos publicitários, mas sim estar satisfeito consigo mesmo e saber aceitar-se como se é. A aceitação do corpo é a aceitação de quem somos, do todo que somos. É aceitar o local onde habitamos.

Referência Bibliográfica
Fonseca, A.F. (1985). "Psiquiatria e Psicopatologia", II Vol. Lisboa: Edições Calouste Gulbenkian.
 * Estou a escrever texto sobre a Anorexia Nervosa e Bulimia, em breve partilho com vocês.

MUSE - Muscle Museum

4 comentários:

  1. Eu serei sempre uma insatisfeita com o meu corpo ... hoje ja assumo mt coisa e ja consg gostar mas durante mt tempo nao soube ser feliz com aquilo que tinha/era ...
    Um beijinho enorme para ti mh querida
    p.s. tou doentinha ;(

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Querida Mia, sabes que não considero negativa a nossa insatisfação com a imagem, ou com qualquer outra dimensão da nossa realidade (desde que dentro de limites razoáveis, obviamente). Até porque essa insatisfação permite-nos lutar por uma melhor versão de nós mesmos e, consequentemente, sentirmo-nos bem connosco próprios e com o que nos rodeia...
      Ah!Por vezes, falta-nos é a capacidade de nos conseguirmos focar nos nossos aspetos positivos e tirar partido deles...
      Um grande beijinho para ti também.

      Eliminar
  2. Gostei do post, mas só uma observação na parte "incidência dos chamados transtornos dismórficos, sejam corporais (anorexia, bulimia)" parece que dismorfia corporal é só dividida entre anorexia e bulimia quando na verdade anorexia e bulimia são subdivisões da dismorfia corporal.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá! Agradeço MUITO o comentário.
      Depois de voltar a ler o post, não fico com essa ideia!:)
      Defino o que é a dismorfia corporal, mas a ideia é falar de alguns exemplos de distúrbios resultantes dessa perturbação psicológica (dado que o desenvolvimento da anorexia, ortorexia ou vigorexia resulta da dismorfofobia).
      Mas obsessão com qualquer defeito ou característica do nosso corpo, que não seja do nosso agrado, pode resultar em transtorno dismórfico corporal.
      Nada do que disse será novo para si, mas espero que as nossas observações possam melhor esclarecer os possíveis leitores do post.
      Uma vez mais, obrigada!

      Eliminar

Obrigada pela visita e por partilhar a sua opinião! Beijinho.